“Acho que o valor de cada foto deveria ser de R$0,80 centavos!”
Foi escutando essa frase que encerrei uma negociação sobre um pacote de imagens.
Vou contar essa experiência real de desvalorização profissional.
Certa vez fui convidado por uma amiga para fotografar seu desfile de graduação, acertei um valor com cerca de 3 formandas para as fotos de seus desfiles, mas como haviam cerca de 30 formandas, tomei como uma oportunidade de apresentar meu trabalho para elas. Naquela noite fotografei todos os desfiles com a ideia de fazer contato com o maior número possível de futuras profissionais entrando no mercado.
Ao oferecer as fotos obtive muitos nãos ao que diz respeito do interesse em minhas fotografias. Foram estes por diversos motivos, alguns por terem recebido as fotos através do fotografo oficial da faculdade de graça, outras por não terem $ ou ainda por acharem que não valeria a pena. Dentre aproximadamente 30 formandas, não foram só respostas negativas, algumas gostaram bastante das fotos e aceitaram minha proposta. Até aqui uma história comum de negociação como qualquer outra, onde um produto ou serviço é oferecido e as pessoas decidem se precisam deles ou não. Entediante, mas dentre todas houve uma que me chamou a atenção, não pelo seu trabalho de graduação, mas pela forma como ela tentou negociar as fotos de seu trabalho.
Quando apresentei a proposta a essa formanda, ela me fez alguns questionamentos e nenhum deles foi relacionado a qualidade do meu trabalho.
Primeiro questionamento: As outras formandas receberiam a mesma quantidade de fotos pelo mesmo preço?!
A diferença de fotos entre as formandas era cerca de 5 fotos pra mais ou para menos em uma média de 25 imagens por desfile, logo algumas receberiam 30 imagens outras 20, mas todas de acordo com o desfile.
Não sei muito bem de onde vem esse tipo de preocupação. Isso apenas me mostrou como algumas pessoas não conseguem viver sem saber se o outro tem ou faz as coisas da mesma forma. É triste essa dependência de comparação, vamos viver de acordo com a nossa própria realidade e necessidade. De que importa se o outro tem mais, menos ou o mesmo que nós?! Abaixo um vídeo que ilustra essa situação onde a pessoa se preocupa tanto com o que o outro recebe que ela esquece do que ela mesmo tem e que realmente precisa.
Segundo questionamento: O valor das minhas fotografias deveria ser baseado no custo de uma ampliação/revelação/impressão de foto 10x15cm!
Este foi um daqueles momentos no qual eu me senti como se o termo “profissional a preço de banana” estivesse aplicado na minha testa, foi quase uma ofensa. Acho muito justo as pessoas pechincharem, faz parte da arte de negociação, é cultural. Foi então que quando questionou o valor no qual ofereci as imagens, que posso garantir que foi um valor baixo, que cobriria apenas meus custos básicos, como transporte e estacionamento mais o desgaste de equipamento, afinal estava apenas apresentando meu trabalho, mas voltando ao assunto chave eu tive a péssima ideia de perguntar qual o valor ela acharia justo pagar pelo pacote de imagens. Eis que a resposta foi surpreendente, “Acho que deveria cobrar R$0,80 centavos de real por imagem, pois é o preço pago para uma ampliação/revelação/impressão em tamanho 10x15cm.” Acho que nem preciso comentar o que minha cabeça pensou nesse momento. Seguindo essa lógica seria justo então um pintor cobrar o valor final de sua obra somente baseado no valor da tela e das tintas, ou então um escultor cobrar apenas o preço da argila por seu trabalho, acho que entenderam o ponto que estou me referindo. Esse ainda não é o fim da história…
Terceiro questionamento: Eu deveria as vezes cobrar abaixo do meu custo para ganhar mercado, ou seja, pagar para trabalhar.
Ela me disse que muitas vezes vendeu algumas de suas peças abaixo do preço de custo, para poder entrar no mercado ou para deixar determinado cliente feliz e que eu deveria fazer o mesmo se estivesse interessado em ganhar clientes.
De certa forma em muitos momentos nós fazemos exatamente isso, pagamos pra trabalhar, Sim nós fazemos! Uma ocasião em que isso ocorre é quando vamos montar um portfólio e ainda não temos trabalhos ou clientes. Até aqui tudo bem, mas uma outra situação bastante comum, porém, muito ruim é quando não conhecemos nosso custo real e cobramos abaixo dele, atrapalhando nosso orçamento pessoal e derrubando o preço de todo o mercado. Acredito sim, que podemos trabalhar de graça ou até mesmo pagar para trabalhar, mas toda vez que isso acontecer deve ser por um posicionamento estratégico e não por uma imposição ou por birra de um cliente ruim. Um texto que fala de forma bacana sobre quando trabalhar de graça está no blog Dicas de Fotografia – Ler matéria.
Essas questões me deixaram indignado durante algum tempo, não por ter havido uma pechincha comigo, mas sim, pela forma como essa profissional estava norteando a negociação. Para conseguir as imagens ela queria que eu praticamente cedesse ou então aceitasse o mínimo que ela estaria disposta a pagar.
Encerrei a negociação sem ceder o valor e não ganhei nada com aquelas fotos, mas outras formandas daquela turma e que hoje são profissionais atuantes no mercado, são contatos profissionais até hoje.
Cheguei a conclusão de que assim como existem diversos tipos de profissionais, coexistem diversos tipos de clientes e cabe a nós fazer uma filtragem de acordo com nossos objetivos e estratégias.
Uma ótima semana a todos e muitas fotografias!
Fiquem com Deus.